Pantera: O estranho enterro de Dimebag, Leia trecho da Biografia oficial de Rex brown

[...] Havia uma quantidade enorme de músicos amigos de Dime ali, e Eddie Van Halen e Zakk Wylde foram solicitados a fazer um discurso. Eu estava sentado na segunda fileira, atrás de Eddie, que estava sendo muito inconveniente, muito desrespeitoso, na verdade. Eu disse a Eddie por repetidas vezes para calar a boca, mas era inútil. Zakk sempre fora um dos melhores amigos de Dime, e assim como Dime, era um grande guitarrista, mas nessa ocasião ele se viu na bizarra situação de ter que manter Eddie Van Halen – que estava transpirando cocaína e agindo como um completo idiota – na linha.

“Cala a boca, caralho”, Zakk disse a Eddie depois de ele ter divagado por um tempo enquanto fazia seu discurso – algo sobre sua ex-esposa, se não me falha a memória – mas isso não o deteve, ele continuou. Foi muito desrespeitoso.

Apesar da natureza sombria do dia, havia o perigo de aquilo virar o “Eddie & Zakk Show”, mas felizmente, tudo se acalmou. Eu fui um dos últimos a passar e ver o corpo de Dime [minha segunda vez], e aí eu simplesmente beijei sua testa. Ele estava tão gelado. Foi ali que eu me retirei emocionalmente. Claro que eu estava ali fisicamente, mas mentalmente, eu tinha saído. Eu virei uma concha e não conseguia sentir nada. Depois da cerimônia eu saí e acendi um cigarro. Eu estava tremendo feito vara verde. Eu queria sair dali e tinha uma limusine esperando pra fazer isso, mas tudo que eu queria mesmo era minha esposa Belinda, que tinha vindo sozinha, pra me levar pra casa.

“Me coloca no Hummer e me leva pra casa”, eu disse a ela. E quando eu cheguei lá, eu caí num sono profundo como um coma. Eu não apareci no enterro, apesar de eu ter sido escolhido pra ser corpoferário. Eu não conseguiria. Eu não sei nem se alguém disse alguma coisa sobre eu não ter estado lá, mas eu não me importaria se dissessem. Dime era a última pessoa que eu queria enterrar. Eu não conseguia suportar a ideia de fazer isso com meu melhor amigo.

Eu acordei às sete da noite e descobri que minha casa estava cheia de gente. Eu fui convencido a levantar, me vestir e claro, tomar uma ou duas doses por Dime. Nosso próximo destino foi o Centro de Convenções de Arlington, para o funeral público de Dime, e por alguma razão eu estava me sentindo desconfortável, e até o último minuto eu não tinha certeza sequer se iria. Meu desconforto era inteiramente justificável. Tão logo eu entrei no lugar, que estava abarrotado com cinco mil pessoas, alguém me deu outra dose enquanto eu caminhava rumo ao palco onde Jerry Cantrell e sua banda ainda estavam tocando. Eu estava do lado, assistindo o que estava acontecendo, e de repente eu virei o foco das atenções. Eu não esperava aquilo. Havia esse cara, um DJ, que tinha sido incumbido de ser o mestre de cerimônias oficial, e eu conhecia esse otário de outros carnavais. Ele é um daqueles animadores de casas de strip que apresenta as moças exageradamente, tipo, “Hey, agora, no palco, é a Ciiiinammmooooon!” ou “Lusciousssssss no palco três!”. Isso é legal num clube de strip – eu bem sei – mas eu me lembro de achar que aquele cara ali não era somente de todo inapropriado, era uma completa blasfêmia e parecia que a coisa toda poderia virar uma piada a qualquer segundo, se é que já não tinha. Tudo parecia ser desorganizado e atrasado, mas de algum modo, Dime teria gostado que fosse daquele jeito, já que ele disse uma vez – meio ironicamente, no fim das contas – que ele chegaria atrasado a seu próprio enterro. Então, eu estava de pé, observando e do nada esse DJ idiota do caralho coloca um microfone na minha mão e me pede pra eu dizer algumas palavras pra essas cinco mil pessoas que estavam ali. Como eu disse, eu não sabia que me pediriam pra dizer qualquer coisa e eu certamente não tinha um discurso planejado, então quando eu estava lá eu estava tentando desesperadamente encontrar palavras- qualquer palavra – e no fim, tudo que eu consegui balbuciar foi, “Ele amava a vocês todos. Vamos sentir muita falta dele.”

Ao mesmo tempo em que isso acontecia, eu tinha noção que esse DJ idiota ficava me pressionando o tempo todo. “Vamos, Rex, temos que ir, temos que ir”, é tudo que me lembro. Ir pra onde? Sabe-se lá, mas depois de ele ter dito isso, teve vaia da plateia e na dormência que eu estava, fiquei imaginando se estavam vaiando a mim ou a ele. Foi uma situação muito estranha. Vendo agora, eu acho que ele só estava tentando me apressar pra sair do palco pra que eles colocassem Vinnie ali. Tudo que eu estava tentando fazer era me controlar naquela noite, e eu não estava fazendo isso muito bem. O lugar todo estava abarrotado de seguranças naquela noite, com todo tipo de barricadas colocadas pra manter certas pessoas em certas áreas. Em minha cabeça, eu decidi que queria descer pra frente da casa, e na descida eu literalmente cai nos braços de Snake Sabo e Terry Date, que de algum modo, conseguiram me segurar. Eles me levaram pra área que eu queria e me colocaram sentado entre nossa empresária, Kim Zide, e Charlie Benante. Ali eu estava zoado emocionalmente e só o que Charlie podia fazer era me abraçar como a um bebê.

Uma pessoa obviamente ausente naquele dia era Philip, apesar de que a essa hora, ele já tinha vindo de avião pra cidade – apesar da ameaça de Rita – e estava hospedado num hotel, então eu ficava falando ao fone com ele o dia todo. Eu até fui ver ele por um tempo e o mantive informado do que estava acontecendo. Eu tenho certeza que havia uma parte dele que queria estar ali – ou pelo menos estar próximo do que estava acontecendo – mas ao mesmo tempo tenho certeza que ele queria respeitar os desejos da família. De qualquer modo, era uma posição difícil pra ele, e uma pra qual ninguém oferecia solução alguma. A ideia de ele aparecer sem avisar não teria sido bem recebida, dada a completa insistência de Rita que ele ficasse longe. Então, frustrado por ter sido excluído de todos os eventos em torno da morte de Dime, e privado de qualquer definição no óbito de um de seus melhores amigos e alma gêmea musical, Philip escreveria uma carta a Vinnie depois, mas minha suspeita é que ela não pode ter sido lida ou certamente não foi acusada de modo algum. Foi sugerido que Vinnie nunca nem a recebera, mas eu aposto que ele recebeu.

Os dias seguintes ao funeral não foram menos estressantes. Todo dia minha esposa e eu éramos assediados por repórteres em nossa porta – eles até reviraram nosso lixo e o espalharam pelo jardim – tentando obter algum comentário meu sobre o que tinha ocorrido. Eu simplesmente não queria me envolver com nenhum tipo de discussão, porque, afinal, o que é que haveria pra se dizer?

Então eu pedia minha esposa que dissesse a eles, “Ele não vai falar com nenhum de vocês, então vocês podem puxar a porra do carro”. Eu fui ao cemitério alguns dias depois, sozinho. Eu queria dar minha própria despedida a Darrell, mas o povo não me permitia nem que eu tivesse essa privacidade com meu amigo, já que eu era continuamente assediado por comentários e até autógrafos, tudo enquanto eu tentava passar um pequeno espaço de tempo com privacidade ao lado do túmulo de Dime. Eu me lembro desse dia como um dos piores de minha vida.

Daquele dia em diante, eu entrei na zona do ‘por quê?’, e ainda faço essa pergunta. Talvez eu a faça pra sempre. eu vivo com uma combinação constante de raiva do filho da puta que fez isso com meu caro amigo, e completo choque pela existência da banda com a qual eu passara toda minha vida adulta ter sido finalizada por uma série de acontecimentos que estava bem além do controle de qualquer um. O que você precisa lembrar é que apenas quatro caras sabiam de fato o que se passava no Pantera, e um de nós não está mais por perto para contar o lado dele da história. [...]

Fonte: Whiplash

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