Entrevista: Fabrizzio Hanoi

Foto: C. Castro

Fabrizzio Hanoi é um guitarrista paulistano com um raro senso de cordialidade. Sempre alegre, gentil e solicito trocamos algumas palavras com esse grande sujeito. Sua experiência de vida, sua paixão pela música e seu estilo de vida particular, confira tudo isso na sequencia.

1 – Quando se deu sua inicialização musical? Você sempre foi guitarrista?
 

Então, sempre fui guitarrista, comecei por volta dos 13 anos. Tive esse interesse por conta da minha família, meu irmão fazia aulas de teclado e meu pai era cantor, então tava rolando aula pras crianças (risos). Comecei tirando musicas do Legião Urbana, mas queria mesmo era tocar riffs do Iron Maiden (risos).
 

2 – Gosto sempre de testar a memória dos músicos que entrevisto (risos). Você consegue relacionar em ordem sequencial todas as bandas e projetos que tocou, buscando até a mais remota lembrança?
 

Cara consigo sim (risos). Já tive varias bandas, projetos, começos de banda. A primeira banda tive com o Thiago que canta a música Akira no meu ultimo disco. A gente tocava guitarra juntos, covers de bandas de power metal, Grave Digger, Primal Fear esses lances.
 

Depois toquei um tempo num Warlock Cover. Em seguida toquei baixo no Guerrilha, isso em 2007, gravei o Forças Unidas com eles. Depois do Guerrilha montei uma banda com vocal feminino que chamava Lynce. Era um som mais pro heavy metal tradicional, infelizmente a banda não teve gravação, ficou só nos ensaios mesmo. Toquei no Vendetta que era mais pros lados do Pop Rock e musicais atuais também. Quando a Vendetta acabou eu entrei na Razonator que seguia uma linha de som mais pros lados do Black Label Society. Com eles gravei o Broken Bones. Quando sai da Razonator comecei a L.F.Angels, gravei o ep Between the Pleasure and Pain, mais ou menos na mesma época gravei solos e bases de guitarra para as bandas Blackweapon (Thrash Metal) e Dissonant Nigthmare (Sleaze) pro ep deles. Passado tudo isso comecei o Desperado$, que foi um dos projetos mais importantes da minha vida. Na sequencia eu participei com o Gabriel Martins e o André Minas do Tributo ao Sons of Anarchy, mais um projeto que tenho honra diária de ter feito parte. Voltei a tocar baixo mais uma vez, com a banda Keep It Fresh, e então comecei meu disco solo: Hanoi – Dharma Sailor.




 Foto: Promo Desperado$

3 – Quem são seus heróis da guitarra? Músicos que te inspiram, que te servem de referência no instrumento ou até mesmo na vida? Eu tenho isso com música, nem tudo pra mim é apenas música, sempre imagino que no rock também absorvemos um pouco do estilo de vida daqueles que admiramos, ainda que sutilmente.
 

Cresci escutando diariamente: Heavy Metal, Power Metal, Metalcore, Hard Rock e os caras que mais me influenciaram são desse setor. Não só no ato de tocar, mas também em composição e passagens. Um cara que eu escutei sempre e tirei seus solos é o Criss Oliva do Savatage, que criou riffs, solos e composições que marcaram muito minha vida, e que infelizmente morreu de forma trágica. O Randy Rhoads também. Esses dias vi alguns solos que fiz e em vários momentos usei uma escala que aprendi com ele.

O Sam Totman do Dragonforce é como meu irmão ou algo do tipo (risos). Tirando as musicas dele peguei muito o lance de duetos, como encontrar a harmonia certa. Fiz os duetos do Dharma Sailor com muito conforto e rapidamente, pois tinha aprendido muito como fazer tirando os solos dele . O Akira Takasaki do Loudness também é um que até hoje me influencia demais. Aqueles tappings ao contrario que ele faz, os riffs, os modelos de guitarra... tudo entrou muito na minha cachola (risos).

O Hide (Hideto Matsumoto) do X Japan me trouxe isso dos duetos também, é uma coisa que penso bastante hoje em dia, mesmo em sons rápidos você pode tocar um solo com feeling, não precisa ser só fritação até o final. Tem vários outros, mas acho que da pra entender que fiquei sendo metaleiro fanático na guitarra por uns anos (risos).

Uns caras de outras escolas que também gosto são: Steve Clark do Def Leppard por exemplo. Peguei muito com ele a ideia de orquestrar guitarras, colocar guitarras limpas na musica por trás da distorção. Riffs rolando por trás da base de acordes. Acho muito incrível sua performance ao vivo. Prince, John Sykes, Scott Gorham do Thin Lizzy, Justin Hawkins do The Darkness e mais uma galera (risos).






Tocando baixo na banda Guerrilha 
 
4 – Em 2014 você lançou um EP com Pedro Grell, intitulado Desperado$. Ao que parece foi quando você partia para trabalhos mais pessoais, apostando menos na atuação com bandas.
 

É cara isso aconteceu e foi o melhor projeto da minha vida, muita coisa mudou dai pra frente. Em todas as bandas que citei anteriormente (tirando a Lynce que não teve material lançado) nenhuma delas tiveram musicas que fossem minhas, ou algum começo de musica, talvez minhas ideias fossem ruins demais, nunca eram usadas (risos). Então minhas musicas foram acumulando durante todo esse tempo, e quando comecei a Desperado$ com o Pedro vi uma novidade, pois sentamos e tocamos, ambos trouxemos musicas, ideias para a capa também, tudo juntos. Ali foi onde vi como é fazer um projeto de qualidade, onde suas ideias são aceitas em harmonia total às ideias das outras pessoas envolvidas com você no trabalho. Sem ego ou algo do tipo. Liberdade de expressar o que se sente, sem opinarem se está bom ou não. O Pedro foi o melhor parceiro de guitarra que eu já tive, tocamos juntos, as ideias batem e criamos algo sobre aquilo na hora.

Quando gravei com o Gabriel Martins (Banda Mattilha) o tributo ao Sons, foi assim também. Sentamos e conversamos, drinkamos uns mé e tal (risos) e saiu aquilo com aquela qualidade sensacional. Como a Desperado$, esses dois projetos pra mim são os melhores que me envolvi por isso, liberdade e harmonia de ideias em todos os sentidos e produto final incrível, satisfação.

Prefiro continuar nesse tipo de situação, onde posso colocar minhas ideias e as das pessoas em prática. No meu disco solo aconteceu da mesma forma. Escrevi as letras com o Saulo Martins, que é um cara cheio de talento e criativo demais. Ele topou os temas abordados, super entendia e aceitava a ideia .



 Razonator

5 – Seu primeiro disco solo o Dharma Sailor, contou com uma lista de convidados especiais. Acompanhei parte do processo de gravação. Lembro que me enviou prévias, e conversamos bastante sobre diversas ideias. Infelizmente em dado momento o trabalho foi interrompido devido a um grave acidente que você sofreu. Cheguei a cogitar não abordar esse assunto, mas acho que há muitos motivos para celebrar já que é muito bom te ver de volta, sempre inspirado e envolto de amizades sinceras. Você poderia descrever o que rolou nas sessões de gravação do Dharma Sailor, como você construiu a concepção desse projeto e como o acidente afetou a sua vida?
 

Obrigado demais cara por esse convite e por esse assunto, serio mesmo, é uma honra pra mim falar com você sobre isso e fazer essa entrevista pois nos entendemos nos papos de musica demais, curtimos o Budgie!!! (risos). A gravação do Dharma Sailor por incrível que pareça, foi a gravação mais difícil da minha vida (risos), muitas coisas rolaram.

Em termos de processo de gravação e composição foi tranquilo. Eu gravei e compus todas as linhas guitarra sozinho. Das 7 faixas do disco, só faltava a gravação da voz de All My Life, pois ja estava praticamente "pronto o álbum", e então aconteceu o atropelamento. Fiquei em coma e em recuperação por 2 meses, isso foi em julho de 2015 e o disco foi lançando em janeiro de 2016. Já da pra ter uma ideia do tempo que foi perdido nesse momento.
 

Após o acidente, quando voltei e terminei as vozes com os vocalistas, levei ao studio em que gravava. Deixei lá parado durante uns 3 meses. No final das contas o produtor do disco não mixou o álbum, disse que não ia mixar e me deu as tracks abertas, então fiz com o André Minas que é um produtor incrível!

Depois de todo esse processo consegui a mixagem final.

A concepção e conceito do disco são baseadas em nossas ações na vida, como agimos, o que fazemos, e o retorno que isso nos traz, se for bom ou se for mal. As músicas Akira e Carlota Joaquina são historias dos resultados que essas pessoas conseguiram com suas ações ruins em vida. Já a Kharma e All My Life falam de ações boas e arrependimento.
 

São muitas coisas envolvidas nesse disco, mas o resultado dele pra mim é indescritível! Chamei os melhores amigos, as pessoas que mais admiro, de talento e amizade pra cantarem juntas. Pra mim foi tipo a maior historia, a maior conquista, a maior honra ter pessoas que mudaram minha vida no disco. Um exemplo foi o Thiago (Thiago Vieira Damascena). Começos a tocar juntos e somos vizinhos, gravei os vocais dele em Akira na sexta e segunda fui atropelado. Ele estava no hospital ao meu lado no dia que sai do coma, como conseguir descrever isso em palavras?

E o melhor baixista que toquei, que já vi tocar, esteve no disco comigo, que é o Andrews Einech (Banda Mattilha). Na época da L.F.Angels compúnhamos juntos e ter ele fazendo um som comigo é um sonho!!!
Quando fui atropelado todos estavam me ajudando com palavras, amizade e companhia.

É realmente extraordinário o significado desse disco pra mim.

O acidente afetou a minha vida na parte que fiquei surdo do ouvido direito, surdez de alto nível, não escuto mais nada com ele. Isso atingiu também a presença de altos volumes em shows, fazer ou ir em shows é mais difícil agora. Além disso também me afetou na forma como vejo a vida, pois se antes dava valor pra amizade, musica e  família, agora esse valor triplicou (risos).





































L.F Angels

6 – Ainda sobre o Dharma Sailor, eu gostei bastante da construção do solo da faixa All My Life. Seria legal se pudesse comentar sobre isso. Vejo aqui uma letra de tom bem pessoal e uma mistura de gêneros. Hard rock, metal clássico, NWOBHM, power metal e até thrash. A segunda parte do solo, caminhando para o final, é bem marcante!
 

Sim essa eh bem pessoal mesmo, ela foi a que faltava na época do acidente, e foi a única letra que escrevi sozinho, fala de tudo que aconteceu na minha vida em varias partes, amor, amizade, o underground etc. Nela fiz uma coisa que pra mim foi tipo Avantasia (risos).

As bandas que mais gosto do Brasil nesse momento, que escuto sempre, são a Dirty Glory e o Mattilha. Ter o Jimmi Dg e o Gabriel Martins juntos cantando pra mim, foi tipo ver o Axl Rose e o Joe Elliott cantando juntos (risos). Muito obrigado por ter percebido essas influencias, todas elas são a realidade, curto demais todos esses gêneros e também Thrash Metal. Adoro Sodom e Destruction! (risos).
 

Nossa... dessa musica, usei umas técnicas que peguei do Sam Totman, Randy Rhoads e Zakk Wylde. O começo do segundo solo, usei uma técnica que aprendi vendo o Sam, passar o dedo correndo no braço e tapping com a palheta ao mesmo tempo, usei isso no final também, passando da casa 22 com o dedo correndo na corda ate a ponte, mas sem tapping.

Nos 3:48 da música da pra ver as influencias do Randy Rhoads nos bends. E no bend dar tappings em casas diferentes mais pra frente mantendo a corda pra cima, depois uma pentatonica a milhão (risos) nos 3:57 fiz um dueto, mas fiz um deles pisando no wha - wha, então é um normal e um com efeito, isso gerou um clima legal. Depois vem aqueles bends double step ao estilo Chuck Berry, peguei com o Pedro esse tipo de lick, e ai a parte a milhão na velocidade, trouxe pela influencia dos solos do Zakk Wylde que aprendi a tempos atrás.




 Arte por Sassa Debom.

7 – Agora em 2016 você já está se programando para a gravação do seu novo disco solo, The Om Survivors. O que você está preparando pra esse novo material? 

Ele vai ser uma continuação do Dharma Sailor, em questões sonora , participações vocais, letras , conceito. Mas vai ter algumas musicas instrumentais e alguns sons mais pro lado do Hard Rock anos 70. Já adianto que a capa do The Om Survivors esta pronta e segue a linha de contra capa e capa em uma imagem juntas numa cena, tá do balacobaco (Risos).





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