Dica MPM - Purson: Desire's Magic Theatre (Review)


























Foto I George Fairbairn

Recentemente eu li algumas palavras muito interessantes num artigo do Matheus Krempel para o site Guitar Talks, vou transcrever algumas passagens aqui:

“Quem criou a boca de sino? Quem copiou?
Quem criou a jaqueta de couro? Quem a subverteu, colocando rebites e se apropriando dela?

O próprio ser humano, hoje em dia mais do que nunca, é uma soma de códigos genéticos que impossibilitam a existência sequer de uma raça pura.(...)

Existe um livro que eu acho indispensável e que me inspirou muito e me ajudou a me aceitar, foi o “Roube como um Artista”, de Austin Kleon.

No livro, o autor diz coisas como: “Abrace suas influências”, “Colete Ideias”, “Misture e Reimagine”, “Se gosta de um artista, copie-o, e copie as referências deste artista. Descubra de quem ele gosta, quem ele copia, quem é a sua influência, e tome tudo isto para si. Seja este artista, até a hora que sentir que não está mais copiando e sim criando sua própria versão”(...)

A originalidade é para mim a arte de saber absorver, digerir, reciclar e dessa forma, chegar no seu íntimo a ponto de continuar de onde você começou, seguindo em frente e buscando quem você realmente é .”


Acredito que esse seja o caso da banda inglesa Purson, que apesar de usar uma enormidade de referências, consegue ir muito além do saudosismo e do revivalismo, fazendo música psicodélica com propriedade e para os dias atuais.



Rival Sons, Kadavar, Horisont, Scorpion Child, Ghost, Uncle Acid & the Deadbeats, Blood Ceremony, Blues Pills, Vintage Trouble, Jex Thoth, Blackberry Smoke, Jess & The Ancient Ones, The Oath, Orchid, Astra, The Sword, uma infinidade de bandas tem preferido fazer um som que nos remete a outra era (60’s e 70’s), a outras preferências em termos de música, estética e arte. E algo me diz que o Purson se encaixa entre os grupos que tem um senso composicional que os diferencia dos demais.

Diferentemente de algumas bandas de Stoner atuais, que não tem muito trabalho com arranjos, tendo todas suas cartas na manga baseadas em riffs de guitarra, o Purson é realmente mais cuidadoso e dedicado nesse sentido.

Orgão wurlitzer, mellotron, farfisa, flautas, cravo, saxofone, cello... boa parte das vezes, os instrumentos são usados de forma mais modesta ao invés do virtuosismo frívolo e espalhafatoso, é o bom gosto e a mão boa para o detalhe que encontramos no seu trabalho.

Importante lembrar que, por trás desse processo criativo e até mesmo conceitual, está a talentosíssima multi-instrumentista Rosalie Cunningham, que assina todas composições e também grava grande parte dos instrumentos no Purson.


O nome Purson, inspirado na demonologia, é uma referencia a um dos reis do inferno, que possui uma cabeça de leão e monta em um urso, levando consigo uma trombeta e uma víbora.

Há muitas classificações para o som do Purson: prog rock, neo psych, acid rock, 60's revival, proto metal, occult rock, e talvez todos estejam um poucos certos. No entanto é mais fácil notar uma boa parte das suas influencias para ilustrar o cerne da sua música como: Curved Air, Soft Machine, Camel, Arthur Brown, Jethro Tull, Fleetwood Mac, Shoking Blue, Heart, The Byrds, T. Rex, Cream, Coven, Fairport Convention, Jefferson Airplane, Comus, Witchfinder General, Iron Butterfly, Pentangle, Deep Purple, Pentagram, King Crimson, Bowie, Led Zeppelin e perceptivelmente Beatles (Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band) Small Faces (Ogdens' Nut Gone Flake), Rolling Stones (Their Satanic Majesties Request), Black Sabbath, The Doors e Jimi Hendrix, além da clara referencia a psicodelia de São Francisco/CA, a sunshine pop, como o glam rock inglês, espalhados por seus temas místicos, esotéricos, lisérgicos e hipnóticos, sempre com uma referencia a experiências atuais, e ao romance.

Seu primeiro álbum The Circle and the Blue Door, lançado pela Rise Above Records, uma subsidiaria da Metal Blade (de propriedade de Lee Dorian - Ex Napalm Death/Cathedral), e na sequencia o lançamento do EP "In The Meantime" (que traz músicas incríveis como "Dance Macabre", "Wanted Man" e "Death’s Kiss", canções que rapidamente se tornaram peças fundamentais do seu repertório), mostraram o que estaria por vir.



                                                    Ghost e Purson em Turnê

Desire’s Magic Theatre traz uma produção analógica, com aquele som e aquela vibração encontrada nos timbres de discos clássicos dos fim dos anos 60 e nos anos 70. É importante lembrar que os membros do Purson são bem jovens.

Ao que parece o titulo do álbum é uma referencia a “DMT”, sigla para a droga alucinógena "Dimethyltryptamine". Seus efeitos são semelhantes ao LSD e os cogumelos mágicos em que se experimenta uma visão distorcida da realidade, das cores e objetos. O efeito pode durar até cerca de 2 horas, dependendo da potencia e quantidade do DMT tomado. É um disco amarrado pela ideia de viajem, dai a clara ligação com a proposta musical.

A voz sedutora de Rosalie nos remete a grandes vocalistas como Grace Slick (Jefferson Airplane) Jinx Dawson (Coven), Sonja Kristina (Curved Air) e Stevie Nicks (Fleetwood Mac), porém mostra muito corpo e personalidade, em linhas vocais sedutoras e uma ótima interpretação. Ressalto ainda a qualidade sonora das letras de Rosalie, bastante ligadas ao encaixe fonético das palavras.

Belas passagens acústicas (quase barrocas) trocam de lugar de tempos em tempos com tons mais macabros de guitarra. Linhas de baixo encorpadas e sinuosas permeiam o disco por completo, característica bem desenvolvida pela banda em todos os seus lançamentos. Já as participações do baterista Raphael Mura nas gravações desse disco, como nas performances ao vivo, conseguiram deixar as linhas de bateria ainda mais pesadas, percussivas e com ótima aplicação.

Mais que uma coincidência a capa faz uma alusão aos discos Electric Ladyland e Axis: Bold as Love de Jimi Hendrix. Provavelmente também as capas do Sgt. Peppers e, do disco "maldito" dos Stones, o já citado Their Satanic Majesties Request.

O certo é que Desire’s Magic Theatre rapidamente subiu para o numero um dos álbuns preferidos da minha lista de 2016. Se você é fã de psicodelia dos anos 60, o inicio do heavy metal inglês e de progressivo setentista, fica uma indicação de uma banda nova com bastante energia e com muita estrada pela frente.

Destaques do álbum: Desire’s Magic Theatre, Electric Landlady, Dead Dodo Down, The Sky Parade, The Window Cleaner, Mr. Howard e I Know.




Purson é:
Rosalie Cunningham - Vocal / Guitarra
George Hudson - Guitar
Raphael Mura - Bateria
Justin Smith – Bass
Samuel Shove - Teclados

Lançamento : Spinefarm Records (29 de abril de 2016 )

Por: Thico Soares
 

1 comentários:

Uauuuuuuuu!
Puta Sonzera Mano!!!!!!!!

20 de jun. de 2016, 17:49:00 comment-delete

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