Entrevista com Sergio Turano (Sergião) Guitarrista do Anger, Redrum, Denin and Leather, No Class, GodHelmet.


O MPM entrevistou o guitarrista Sergio Turano. Guitarrista e membro fundador de algumas das mais clássicas bandas de metal e rock na cidade de Campinas/SP. Confira na sequencia. 


1 - Você foi um dos pioneiros a tocar Thrash Metal em Campinas/SP. Como surgiu a banda Anger?

Logo depois do Rock In Rio I, em 1985, eu comecei a aprender a tocar guitarra. E, em 1986, já tinha uma banda, chamava EXCETO e quando precisamos de um baixista, meu professor de guitarra indicou um aluno dele de baixo e que tinha gostos parecidos com o meu, ou seja, gostava de Heavy Metal. Era o Luiz Claudio “Ratto”. O Exceto durou pouco, fizemos apenas um show. Na sequência, eu e o Ratto já queríamos montar uma banda de Thrash. Conhecemos o Albor, que além de bom baterista, deu muitas ideias para as letras e arranjos das músicas, e o Xico que nunca havia cantado e estava montando um zine, chamado Anger Burning. Foi uma descoberta! Ele tinha uma ótima voz para o Thrash que fazíamos! E ainda roubamos o nome do zine para a banda. Começamos a compor. Em 1987 fizemos dois shows em Campinas. Tivemos uma troca de baterista, saiu Albor e entrou o Fabio Piu. Os anos de 88 e 89 foram bem animados, gravamos a demo The Human Brains Factory, tocamos em várias cidades do interior como Itapira, Limeira, Águas de Lindóia, Mogi Guaçu, etc. Também fomos para Araguari em Minas Gerais. No final de 89 perdemos nosso lugar de ensaio, aí cada um foi para o seu lado e a banda parou.


    Anger em Águas de Lindóia em 1988.


2 - Como era o restante do cenário de rock e metal em Campinas. Bandas de amigos, onde vocês se encontravam, como vocês começaram a tocar som mais pesado nessa época?

Que eu me lembre, a primeira banda de Metal de Campinas foi o BR METAL, por volta de 85. Já em 86, com o avanço do Thrash tinha o grande AGGRESSOR, que depois se tornou o HAZZARD e tinha o Daniel Belô na bateria, ex-EXCETO. Eles, além de músicas próprias, tocavam covers de Slayer, Destruction, etc. Eram excelentes músicos. Já em 1987, na mesma época do ANGER, tinham várias bandas como o ENFORCER, OFENCE, WITCHAMMER, ETERNAL DEATH e o DAMNED. Todas fazendo som próprio e com suas características. O ENFORCER era mais para o Power Metal, o OFENCE para o Hard Core, nós do ANGER tocávamos Thrash, curtíamos Voivod, Kreator, Cryptic Slaughter, etc.

Nos encontrávamos principalmente aos sábados pela manhã. O principal ponto era a METALICA DISCOS, lá tinham os principais lançamentos em vinil, gravações em k7 (que eram muito comuns na época), camisetas, organizavam excursões, etc. Também ficávamos na Feira-Hippie, que na época, era na praça Carlos Gomes. Em Campinas mesmo, eram poucos shows, então era comum irmos até outras cidades do interior para tocar ou para ver alguns shows. Como eram poucos aqui, nós mesmos começamos a organizar, os maiores foram o Metal Revenge I e II. O primeiro foi no Centro de Convivência e teve boa divulgação de jornal e até da TV.

Nos anos seguintes, dois irmãos do DAMNED montaram o LUCREZIA BORGIA. O Nakamura (baterista) e o Alex Kiss (vocal) do ENFORCER foram para os MUZZARELAS. Michel do OFENCE montou o LETHAL CHARGE. Hoje dois ex-AGGRESSOR e um ex-WITCHAMMER tem uma banda de covers chamada ULTRASEVENTIES.




Sergião, Xico e Albor/ 80's


3 - O Anger fez shows em muitas cidades. Como vocês conseguiam marcar esses shows pelo interior do Brasil mesmo com integrantes tão jovens?

As bandas de Campinas andavam sempre juntas, então quando aparecia um show para alguma banda a gente logo tentava encaixar as outras bandas, (Risos). O difícil na época (final dos anos 80) era a comunicação, que era feita na maioria por carta. Então recebíamos uma carta convidando para algum show, respondíamos que sim a colocávamos nosso logotipo na carta, algum tempo depois, o cara respondia com o cartaz pronto. Era tudo na base da confiança. Pegávamos ônibus ou trem e íamos atrás, dormíamos na casa de alguém ou até na rua ou em praças, sem grana nenhuma. E com isso fizemos muitas amizades, como com o pessoal do EXECUTER de Amparo, que continua na ativa, MANTOR e RITUAL de Itapira, etc



4 - Como surgiu o Redrum?

No início de 1996, eu e o Ratto conhecemos esses dois caras, o Fabio Zen (guitarra) e o Paulino (bateria) que tocavam muito bem e estavam com uma banda procurando baixista e guitarrista. Nós acabamos com a banda deles, (Risos). Começamos uma banda nova. O nome REDRUM veio de uma música do ANGER (originalmente é uma espécie de anagrama para a palavra Murder, contido num romance de Stephen King - O Iluminado). Ensaiávamos muito, foi a época em que eu mais me dediquei à guitarra e com isso as músicas melhoraram tecnicamente. Então, para o vocal, chamamos o Alex Kiss (Alexandre Garcia) que era do ENFORCER e fez história com o MUZZARELAS. Sabíamos que era o melhor vocal de Thrash da cidade. Pode chamar de supergrupo (Risos). Gravamos a demo-tape no estúdio ARENA, com a produção e o apoio do Caio Ribeiro. Tocamos bastante entre 96 e 98. Então o Zen saiu da banda, continuamos mais um pouco e, então, o Paulino foi para os Estados Unidos fazer um curso de um ano de bateria. Quando voltou já estávamos em outra e não rolou mais. 


   Zen, Alexandre,  Ratto Nogueira e Paulino/REDRUM.


 5 - Quais shows mais legais ou importantes que o Redrum fez e como era o sentimento dessa época do metal nos anos 90 em Campinas (Segunda metade dos anos 90).

Foi uma época bem legal para o Metal em geral. Porque, entre 90 e 95, a coisa estava meio estagnada, sei lá, era difícil aparecer banda de Metal real fazendo algo novo e empolgante. Mas, na metade da década, foram aparecendo coisas novas, novas subdivisões ou retorno de bandas e isso repercutiu em Campinas também. Tinham bandas, lugares para tocar e público! Para tocar tinha o Tribo Urbana (que se tornou Oz), Desmanxe, Saudosa Maloca, etc. E as bandas mais expoentes eram o HELLISH WAR (que continua na ativa), DARK TIME, ARMPYT e outros. Os shows na Concha Acústica eram legais pela divulgação, pelo grande público, pelo encontro com os amigos (das bandas e do público), mas o som nunca estava bom, (Risos). Abrimos para o Fugazi que foi bem legal por ser um público diferente, mas os que mais me lembro foram os shows no Tribo, principalmente quando abrimos para o GENOCÍDIO, MX e para a DORSAL ATLÂNTICA, uma das minhas bandas preferidas.




6 -  Quais outros trabalhos e bandas tiveram os integrantes do Redrum após sua dissolução?

Entre o ANGER e o REDRUM, eu toquei no NO CLASS. E já levava em paralelo o DENIM AND LEATHER. Com o fim do REDRUM, me dediquei completamente ao DENIM, que está na ativa até hoje (apesar de nos últimos dois anos estarmos um pouco devagar), tocamos Heavy Tradicional e já temos CD, Vinil, demos e coletâneas lançadas. Também estou com outro projeto, chamado GODHELMET, onde, por enquanto, faço tudo. O som é Thrash e até regravei dois sons do ANGER. Lancei duas demos: Runaway World (2013) e Poison Mind (2015)


O Ratto tocou com o HEAD-OFF e agora está com o BAT PATROL.
O Alex Kiss continua no MUZZARELAS.

O Zen e o Paulino, junto com outros músicos, tentaram voltar com o REDRUM, mas durou pouquíssimo tempo. O Paulino é baterista profissional e está sempre com um monte de projetos. O Zen, na última conversa que tive com ele, estava sem banda, mas ainda tocando.

5 comentários:

Carai!!!! Tirando a poeira do Metal! Valeu Sérgião!!!!!Xico Anger!!!

Anônimo
7 de mar. de 2016, 17:25:00 comment-delete

Muito obrigado Xico pela sua participação. Em breve mais histórias e entrevistas. Abraço!!!

MPM.

7 de mar. de 2016, 17:55:00 comment-delete

Quanta história do metal interiorano!
Dá gosto ler uma entrevista dessas!

7 de mar. de 2016, 22:33:00 comment-delete

Obrigado Bruno. Viram muitas outras.
Abraço!!!

MPM

8 de mar. de 2016, 12:57:00 comment-delete

Foi meu professor de fenômenos dos transportes na faculdade.

29 de mar. de 2018, 16:20:00 comment-delete

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